O estúdio Quantic Dream está processando o jornal francês Le Monde e o site Mediapart após ambos publicarem matérias sobre supostos casos de assédio sexual e comportamento inadequado em suas dependências.
A existência do processo foi revelado a um jornalista do site Kotaku, que abordou o co-fundador do estúdio, David Cage, durante um evento sobre Detroit: Become Human em Nova York. Em seguida, dois jornalistas dos grupos envolvidos no processo confirmaram a existência da ação.
Em janeiro, o estúdio francês, conhecido por jogos como Heavy Rain, Beyond: Two Souls e Detroit: Become Human, foi alvo de acusações de racismo, machismo e comportamento inadequado. Os líderes do estúdio, David Cage e Guillaume de Fondaumière, foram denunciados por um ex-funcionário que falou com sites e jornais na França.
O ambiente de trabalho no Quantic Dream seria, segundo a denúncia, permeado por uma cultura infantil e piadas racistas e machistas. Cage e de Fondaumière negam as acusações e se disseram “muito surpresos” e “chocados” em resposta ao jornal Le Monde.
Em uma das acusações, o ex-funcionário cita cerca de 600 imagens “photoshopadas” que circularam pelos computadores do Quantic Dream nos últimos cinco anos. Algumas delas mostram funcionários do estúdio em montagens com conteúdo sexual, homofóbico e até nazista. Algumas dessas imagens foram publicadas pelo site CanardPC, e mostravam os rostos de membros da equipe do Quantic Dream “photoshopados” nos corpos de strippers, uma obesa mórbida e o que parece ser uma brincadeira com Cage e um pênis de borracha acoplado a uma furadeira.
A brincadeira com as imagens seriam apenas um sintoma da cultura irreverente e politicamente incorreta que existe no Quantic Dream, segundo a acusação. O estúdio tem 180 funcionários e 83% da equipe é formada por homens. Há imagens de pênis e flatulências pregadas na parede, segundo a denúncia, e Cage seria uma figura difícil e exigente, que nem sempre ouve os outros, o que teria rendido apelidos como “Papa”, “Deus” e “Rei Sol”.
Cage também foi acusado de comportamento inapropriado com mulheres. Ele estaria sempre fazendo piadas sujas e comentários obscenos mesmo na presença de sua esposa, e também teria feito comentários inapropriados sobre as atrizes que aparecem nos jogos da produtora.
“David Cage tem um ponto de vista muito particular sobre como ele administra seu estúdio, que em suas próprias palavras ele vê como um espaço privado ou semi-privado”, disse um ex-funcionário. “Ele sente que tem o direito de dizer o que quiser, que é o lugar dele”. Piadas e comentários racistas também seriam um problema. Em uma ocasião, Cage teria visto a imagem de um roubo registrado por uma câmera de segurança e perguntado a um funcionário de origem tunisiana se o ladrão era um primo seu.
As acusações a de Fondaumière incluem assédio sexual. Ele teria cortejado e beijado funcionárias em festas, mas nega a veracidade das acusações. “Eu serei extremamente claro: é absolutamente falso”, respondeu de Fondaumière. “Nada disso ocorreu em qualquer evento noturno”.
Cage, por sua vez, classificou as acusações como “ridículas, absurdas e grotescas”.
“Você quer falar sobre homofobia?”, disse Cage. “Eu trabalhei com Ellen Page, que luta por direitos LGBT. Você quer falar sobre racismo? Eu trabalhei com Jesse Williams, que luta pelos direitos civis nos EUA… Julgue-me pelo meu trabalho”.
“A história foi escrita com sinceridade, após uma investigação bem documentada e minuciosa, respeitando o princípio de que ambos os lados devem ser ouvidos”, comentou o jornalista William Audureau, do Le Monde. “Nós mantemos a informação divulgada”.
O terceiro site que divulgou a notícia, o CanardPC, diz ter recebido avisos sobre possíveis processos por parte da Quantic Dream, mas as ameaças não foram adiante.
O próximo jogo do Quantic Dream, Detroit: Become Human, será lançado para o PlayStation 4 no dia 25 de maio.