Ao anunciar Far Cry 6 com o enredo de uma ilha caribenha no meio de uma revolução, a Ubisoft novamente levantou questões sobre a natureza política de seus jogos. Depois de mais uma vez tentar transmitir certa neutralidade, como havia feito em Far Cry 4 ao abordar temas como religião e conservadorismo no interior dos Estados Unidos, a editora finalmente se rendeu.

“Nossa história é política. Uma história sobre uma revolução moderna deve ser”, escreveu o diretor de narrativa de Far Cry 6, Navid Khavari.

Khavari, que nasceu na Inglaterra como descendente de imigrantes iranianos, publica seus pronomes preferidos na bio das redes sociais, apoia o movimento Black Lives Matter e trabalha em um meio dominado por militantes radicais de esquerda, mas ainda assim mantém certo mistério sobre a visão sua e da equipe da Ubisoft a respeito de Cuba, a principal fonte de inspiração para a ilha fictícia de Yara.

“Há discussões difíceis e relevantes em Far Cry 6 sobre as condições que levam ao surgimento do fascismo em uma nação, os custos do imperialismo, trabalho forçado, a necessidade de eleições livres e justas, direitos LGBTQ+ e muito mais dentro do contexto de Yara, uma ilha fictícia do Caribe. Meu objetivo era capacitar nossa equipe a não ter medo na história que estávamos contando, e trabalhamos muito para fazer isso nos últimos cinco anos. Também procuramos ter muito cuidado com a maneira como abordamos nossas inspirações, que incluem Cuba, mas também outros países ao redor do mundo que passaram por revoluções políticas em suas histórias”, explicou Khavari.

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“Em nossa abordagem, procuramos para nossa equipe criadores e colaboradores que possam falar pessoalmente sobre a história e as culturas das regiões que nos inspiraram. Também trouxemos especialistas e consultores para examinar a história do jogo várias vezes ao longo do projeto para ter certeza de que estava sendo contada com sensibilidade. Não cabe a mim decidir se tivemos sucesso, mas posso dizer que tentamos com toda a certeza”.

O diretor de Far Cry 6 indicou que o jogo não entrará em grandes polêmicas sobre o tema, entretanto, e houve o cuidado de evitar discussões binárias sobre o contexto político atual.

“As conversas e pesquisas feitas sobre as perspectivas daqueles que lutaram contra as revoluções no final dos anos 1950, início dos anos 1960 e além estão absolutamente refletidas em nossa história e personagens. Mas se alguém está procurando uma declaração política simplificada e binária especificamente sobre o clima político atual em Cuba, eles não a encontrarão. Sou de uma família que sofreu as consequências da revolução. Tenho debatido a revolução na mesa de jantar minha vida inteira. Só posso falar por mim, mas é um assunto complexo que nunca deve ser reduzido a uma citação”, escreveu o diretor de narrativa.

“O que os jogadores encontrarão é uma história cujo ponto de vista tenta capturar a complexidade política de uma revolução moderna e atual dentro de um contexto fictício. Tentamos contar uma história com ação, aventura e coração, mas que também não tem medo de fazer perguntas difíceis. Far Cry é uma marca que em seu DNA busca ter temas maduros e complexos equilibrados com leviandade e humor. Um não existe sem o outro e temos tentado atingir esse equilíbrio com cuidado. Minha única esperança é que estejamos dispostos a deixar a história falar por si mesma antes de formar opiniões duras sobre suas reflexões políticas”.

Far Cry 6 será lançado para PC e consoles em 7 de outubro.