O chefe da divisão Xbox, Phil Spencer, revelou detalhes dos meses turbulentos que precederam o lançamento do Xbox One em 2013 em uma nova entrevista. Segundo o executivo, a Microsoft considerou desistir do Xbox e do negócio de games na época, após uma sucessão de erros no projeto do Xbox One que levaram a uma derrota precoce para o PS4 da Sony.

Spencer, que na época do anúncio do Xbox One era chefe dos estúdios de desenvolvimento do Xbox, lembrou da debandada de executivos da equipe após o fatídico anúncio do console em maio de 2013 e disse que assumiu o cargo de chefe da divisão Xbox simplesmente porque era o último executivo que restou.

“O que aconteceu quando Don (Mattrick, chefe do Xbox em 2013) saiu foi que a equipe do Xbox era meio… bem, mais do que meio, ela foi espalhada pela empresa de uma forma que eu diria que não era realmente viável para o Xbox. Isso foi antes do lançamento do Xbox One. Don saiu em junho, eu acho, logo após a E3 daquele ano. Estávamos lançando em novembro. Portanto, ainda tínhamos meses para realmente lançar o console sem um líder. Marc Whitten, que era meio que meu co-gerente – ele comandava a equipe de plataforma; Eu dirigia estúdios primários – Marc acabou indo para a divisão do Windows. Continuei dirigindo jogos próprios em outra parte da empresa”, relembrou Spencer na entrevista ao site Shack News.

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A saída de Don Mattrick e os outros líderes da equipe Xbox foi consequência de uma série de decisões erradas no projeto do Xbox One, entre elas a de focar no console mais como um acessório para assistir TV do que para jogar e a inclusão do Kinect 2.0 como um acessório essencial, incluído em todas as caixas do Xbox One. O Xbox One também era tecnicamente menos poderoso que o rival PlayStation 4, mas mais caro e inicialmente não permitia a revenda de jogos em mídia física.

Após a apresentação em maio de 2013, a divisão Xbox perdeu suas principais lideranças e começou a se reorganizar a partir de Spencer, que por sua vez precisou se entender com o novo CEO da Microsoft, Satya Nadella, ainda pouco familiar com as peculiaridades do Xbox.

“Então, nós estávamos realmente separados, e até mesmo nossa equipe de marketing foi removida. Isso pegou o que era a equipe coesa de Don e dividiu-a em três, ainda com o objetivo de lançarmos este console com jogos, e foi difícil. Não acho que tenha sido a melhor jogada para a estabilidade do nosso lançamento, mas parabéns ao Marc e a todos: Nós terminamos e lançamos o Xbox One quase que no dia planejado. Eu diria que algumas partes da plataforma não estavam totalmente concluídas quando lançamos, mas parabéns à equipe [por fazer o que podiam]”.

No final de 2013 e começo de 2014, a percepção de que o Xbox One ficaria bem atrás do PlayStation 4 na disputa pela nova geração já se sedimentava e foi quando a Microsoft considerou desistir do Xbox.

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“Então isso foi em novembro. Marc saiu para ir para a Sonos. Satya Nadella… [risos] nós também não tínhamos um CEO na Microsoft neste momento porque Steve Ballmer havia saído. Então Satya se torna o CEO em fevereiro. Então a questão é: avançamos com o Xbox? Porque estamos ficando realmente superados pelo PlayStation no mercado neste momento. Permanecemos investidos nisso? Ou tomamos uma decisão diferente?”, lembrou Spencer.

“Ele e eu tivemos uma discussão e eu fiz uma proposta. Eu disse: ‘Sabe, os jogos podem ser uma categoria de consumo realmente importante para a empresa’. Ele ainda não entendia muito bem, não do ponto de vista da inteligência, mas simplesmente não estava perto disso. Mas ele estava disposto a apostar em nós como equipe. E eu disse: ‘O que preciso, se vou assumir a função de liderar este grupo, é reuni-lo novamente. Não posso ter minha equipe de hardware lá e a equipe de plataforma ali, e a dos jogos acolá. Preciso trazê-lo de volta como uma equipe coesa’. E ele concordou com isso. Acabei trabalhando na divisão Windows, mas juntamos todas essas peças novamente”.

“Acho que a razão pela qual acabei no cargo, francamente, foi que os outros líderes haviam partido. Eu brinco comigo mesmo, dizendo que fui a última pessoa que restou na mesa. E há alguma verdade nisso. Quero ter certeza de manter meu ego sob controle. Não era um claro: ‘Pega a pessoa que comanda as equipes de jogos e a torna o líder da plataforma’. Mas, francamente, dos líderes que estavam lá, fui eu quem sobrou”.

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Desde então, Spencer tem focado suas energias em uma estratégia pró-consumidor, usando o poder financeiro da Microsoft para viabilizar a compra de estúdios de desenvolvimento e empreitadas ousadas como o Xbox Game Pass. O resultado, até agora, tem sido positivo.

“Naquele momento de 2014, quando nos reunimos como nossa nova equipe de liderança, realmente definimos o que significa para uma empresa de valor de mercado de um trilhão de dólares como a Microsoft estar no negócio de jogos. Somos, de longe, a maior empresa que é a sua empresa de jogos de plataforma tradicional do ponto de vista de capitalização de mercado. O que realmente descobrimos, com o apoio de Satya, foi que nossa identidade deveria significar algumas coisas. Uma era que deveríamos disponibilizar os recursos da Microsoft para que realmente tivéssemos sucesso nessa categoria, e uma das mudanças que criamos é que deveríamos realmente construir nossa estratégia futura em torno dos jogadores. Não é nosso dispositivo, não é nosso modelo de negócios, não há um único modelo de negócios que funciona para nós. Se realmente dissermos: ‘Vamos tomar o máximo de decisões que pudermos da perspectiva do que achamos que nossos jogadores querem’, esse é o nosso guia”.

O Xbox Series X e S foi lançado mundialmente nesta terça-feira e, pelo menos por enquanto, parece ter deixado jogadores entusiasmados para o futuro.