Categorizado pelos desenvolvedores da Insomniac como expansão “standalone”, Spider-Man: Miles Morales é uma continuação direta do bem-sucedido Spider-Man lançado em 2018 para PS4, que deixou um gostinho de quero mais em muita gente. Além do novo protagonista, o jogo que acompanha o lançamento do PlayStation 5 na semana que vem promete uma experiência um pouco diferente e uma imersão ainda maior nesta versão única do universo do herói da Marvel.

Apesar de existir desde 2011 nos quadrinhos da Marvel, Miles Morales é um personagem que vem conquistando cada vez mais fãs, especialmente depois do sucesso gigantesco da animação “Homem-Aranha no Aranhaverso”, que é estrelada pelo herói latino. O jovem aranha de origem porto-riquenha já aparecia como coadjuvante no Spider-Man de 2018, mas agora que assume o protagonismo, finalmente ganha a chance de deixar sua marca também nos jogos eletrônicos.

Novos poderes, novas responsabilidades

Desde o Spider-Man desenvolvido pela Neversoft para o primeiro Playstation em 2000, um dos grandes focos de qualquer jogo do aranha é a possibilidade de passear por Nova York se balançando por teias disparadas nos prédios, assim como o herói faz nos quadrinhos e filmes.

Mas, o último Spider-Man, de 2018, levou isso a um outro nível. É extremamente satisfatório cruzar a cidade neste inusitado meio de transporte e a sensação que o jogador tem é a de realmente ser um super-herói, inatingível até mesmo pelos engarrafamentos de Manhattan.

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Apesar de não ter diferenças perceptivas no novo jogo, o elogio continua valendo para Miles Morales: passear por aí nas teias do aranha continua sendo um dos alicerces da diversão e não cansa nunca.

Outro elemento que transmite a sensação de poder sobre-humana do homem-aranha são as mecânicas de combate. E aqui existem mudanças bem significativas em relação ao jogo anterior. No começo, parece que a pancadaria envolve mais apertar botões rapidamente do que apertar os botões certos. Só que a medida que o enredo se desenrola, as lutas de Miles com seus inimigos se tornam mais diversas e profundas que a trocação aparentemente caótica de Peter Parker.

O ar de novidade na ação de Miles Morales se deve não apenas aos novos inimigos, que são bem interessantes do ponto de vista de game design, mas especialmente aos poderes diferentes do garoto em relação ao homem-aranha original.

Assim como Peter Parker, Miles Morales ganhou seus poderes ao ser picado por uma aranha que, no caso do jogo, foi geneticamente modificada. Só, que além da super-agilidade e super-força, Miles desenvolve habilidades um pouco diferentes das de Peter e isso afeta diretamente a jogabilidade e a experiência do jogador.

Logo nos primeiros minutos da história, Miles descobre que é capaz de emitir bioeletricidade e, com isso, carregar seus golpes com alguns volts de energia e atordoar ou causar danos maiores nos seus inimigos. Mais adiante, ele conhece mais uma habilidade: a capacidade de se camuflar por completo, se tornando, na prática, invisível.

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Com esses novos poderes e as consequentes novas árvores de habilidades que podem ser desenvolvidas por Miles, o jogo apresenta não apenas opções de combate variadas como também possibilidades de aproximação estratégica diferentes, o que faz com que, definitivamente, o jogador se sinta na pele de um novo homem-aranha e não o mesmo cara em uma roupa diferente.

Em vez de simplesmente chegar quebrando tudo e disparando teia para todos os lados, Miles Morales pode optar por uma abordagem mais furtiva, utilizando sua invisibilidade, por exemplo. E para finalizar inimigos mais fortes, os golpes elétricos são ferramentas de alta serventia, especialmente quando o jogador destrava suas versões mais poderosas.

A bio-eletrocinese de Miles também tem um papel central nos desafios encontrados pela história. Muitas das missões e puzzles envolvem manipular equipamentos elétricos com o poder, geralmente combinando outras habilidades como disparos de teias bem colocados e a tradicional escalada em paredes.

A pior vizinhança do mundo

Tal qual Peter Parker, que se autodenomina amigão da vizinhança, Miles Morales é um herói bairrista, que lida com problemas locais enquanto tenta conciliar as responsabilidades dos seus poderes com a escola, amigos, interesses românticos e família, em vez de encarar tretas intergaláticas que envolvem o destino do multiverso como outros supers fazem rotineiramente.

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Mas assim como Parker, Morales tem o azar de morar em uma vizinhança em que tudo acontece. Desta vez, o chamado para a aventura que traz o homem-aranha à ação é a guerra urbana entre uma mega-corporação e uma gangue high-tech por uma substância tecnológica com alto potencial energético chamada NuForm.

O NuForm é uma fonte de energia explorada comercialmente pela Roxxon Energy Corporation, uma velha conhecida dos fãs da Marvel, para alimentar o sistema elétrico de Manhattan e outras aplicações não tão éticas assim. Do outro lado, existe a gangue chamada Underground, liderada pelo vilão Tinkerer, que sequestra carregamentos do NuForm para seus próprios objetivos.

Pego em meio a briga, Miles escolhe o lado certo: defender a comunidade. Ou seja, um roteiro com muitos clichês e certamente repetitivo para quem acompanha histórias em quadrinhos.

Mas apesar disso, a relativa pouca originalidade da história não impede que ela seja muito bem contada. O enredo engaja e serve como uma boa desculpa para o show de Miles Morales, que é um protagonista extremamente carismático e envolvente. Os coadjuvantes da história, incluindo o próprio Peter Parker, também somam muito valor a este quesito, portanto, mesmo sem a melhor das motivações na largada, a história de Spider-Man: Miles Morales se desenrola bem e é sim mais um ponto positivo para o jogo.

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No geral, Spider-Man: Miles Morales pode não ser tão inovador como o jogo de 2018, mas isso não faz dele nem um pouco menos divertido. A base sólida construída pela Insomniac permitiu desenvolver uma nova aventura única e digna da estreia de Miles como protagonista em um jogo do Aranha.

Quem já jogou o anterior não precisa de ser convencido a investir seu tempo e dinheiro nessa nova expansão: ela é tudo que os fãs esperam e um pouco mais. Mas mesmo quem ainda não teve a chance de se balançar em teias no PS4 vai curtir conhecer a experiência de ser o homem-aranha em Miles Morales.

– Marcelo Faria

8/10